A Tirania da Ignorância e o Silêncio dos Lúcidos

Vivemos tempos sombrios — não por falta de tecnologia, de informação ou de liberdade, mas por um colapso coletivo do pensamento. Não são os idiotas que ameaçam a civilização; são os lúcidos que se calam.

A Tirania da Ignorância e o Silêncio dos Lúcidos

Enquanto os que pouco sabem falam alto, viralizam nas redes sociais e até chegam ao poder com frases vazias e superficiais, aqueles que têm conhecimento se calam. Os pensadores preferem a neutralidade, trocam a coragem pela conveniência, e a ética dá lugar ao medo de se posicionar. A verdade, nesse cenário, não é celebrada - é abafada por aplausos a quem apenas repete o óbvio. O que antes era exceção, agora se tornou regra: a ignorância ganhou status.

Nietzsche dizia que quem tem um motivo forte suporta qualquer dificuldade. Mas, hoje, poucos buscam um verdadeiro propósito. A maioria se contenta com explicações rápidas, frases feitas e respostas prontas. Refletir profundamente passou a ser visto como arrogância. Ter dúvidas é malvisto. E a ignorância? Ganhou palco, plateia e influência. O problema maior não é que ela exista - é que ela seja tão celebrada.

A própria história já nos mostrou, e Platão nos alertou, que quando a democracia se transforma em palco para populistas, a liberdade corre perigo. Quando pensar cansa, e a responsabilidade de escolher com consciência pesa, o povo acaba entregando poder àquele que apenas grita mais alto - mesmo que ele não diga nada de valor.

Estamos vivendo o domínio da mediocridade. O ignorante moderno não é mais motivo de piada - é aclamado como líder. É seguido, curtido, compartilhado. E quem deveria provocar reflexão, hoje prefere o silêncio por medo de ser atacado. Pensar se tornou um esforço pesado. E enxergar a realidade, em um mundo acostumado a viver no escuro, virou quase um ato de rebelião.

A filosofia, que nasceu para iluminar os caminhos em tempos sombrios, foi esquecida. Sua luz, que poderia nos ajudar a ver com clareza, incomoda quem se acostumou com a escuridão. Por isso, poucos a buscam.

Talvez, como Sócrates, sejamos condenados não por falar mentiras, mas por sermos verdadeiros demais. E tudo bem. Porque, num tempo em que a estupidez é aplaudida e a razão é silenciada, pensar com coragem é um dos maiores atos de resistência.