Planejamento e Resiliência Organizacional: A Importância do Plano de Continuidade de Negócios
Plano de Continuidade de Negócios garante que empresas mantenham suas operações essenciais, minimizem perdas e protejam colaboradores em cenários de crise, apoiando-se em normas, metodologias e exemplos reais para fortalecer sua resiliência.

A gestão de continuidade de negócios é um campo multidisciplinar que busca garantir a resiliência das organizações diante de desastres e interrupções inesperadas. Segundo Alevate (2014), um negócio é estruturado a partir de quatro pilares fundamentais: unidade, processos, componentes e ativos. As unidades correspondem às células de atividade da empresa, relacionando receitas e despesas, enquanto os processos transformam insumos em bens e serviços. Os componentes combinam unidades e processos para identificar áreas críticas e não críticas, e os ativos fornecem suporte a todo o sistema, abrangendo desde tecnologia da informação até recursos humanos. O Plano de Continuidade de Negócios (PCN), definido pela ABNT NBR 15999 Parte 1 (ABNT, 2007), estabelece estratégias preventivas para preservar serviços essenciais e garantir a recuperação rápida das operações após desastres. Trata-se de um processo preventivo, não corretivo, e deve ser elaborado com a participação de profissionais de diversas áreas, minimizando problemas decorrentes de interrupções e protegendo processos críticos.
A importância de um planejamento preventivo é destacada pela própria prática: o custo de prevenção é consideravelmente menor do que o de resolução de problemas inesperados (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR, 2012). Desastres podem ocorrer por causas naturais, falhas de segurança, acidentes, falhas de equipamentos ou ações propositais. A experiência internacional reforça a necessidade desses planos. No ataque de 11 de setembro de 2001, em Nova York, empresas como Deutsche Bank e Morgan Stanley demonstraram a eficácia do Plano de Recuperação de Desastres (PRD): quatro horas após o desastre, suas operações de TI estavam a 30% da capacidade e, em 48 horas, os impactos eram quase transparentes aos clientes (Alevate, 2014). Esse exemplo ilustra como a implementação de um PRD pode sustentar a capacidade competitiva de uma organização em setores de alta exigência.
O PCN desdobra-se em planos específicos: o Plano de Contingência, que define ações imediatas diante de cenários desastrosos; o Plano de Administração de Crises (PAC), que estabelece funções e responsabilidades das equipes para neutralizar consequências; o Plano de Recuperação de Desastres (PRD), que retoma os níveis originais de operação após o controle da contingência; e o Plano de Continuidade Operacional (PCO), que descreve procedimentos para restabelecer ativos críticos como a conectividade à internet. Para garantir sua eficácia, o PCN deve ser revisado periodicamente, uma vez que mudanças em componentes ou processos críticos exigem novas estratégias de ação (ABNT, 2012; ABNT, 2015).
A metodologia PDCA, conhecida como ciclo de Deming, é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento do PCN. Lewis (1998) descreve suas quatro etapas (Planejar, Executar, Checar e Agir) como um modelo de melhoria contínua. Na fase de planejamento, definem-se objetivos, condições e métodos; na execução, aplicam-se os planos e coletam-se dados; na checagem, avaliam-se resultados em relação às metas; e na ação, corrigem-se desvios para aprimorar o ciclo seguinte. A aplicação do PDCA no PCN permite mapear negócios, analisar impactos, definir estratégias, documentar planos e realizar testes e simulações. Estes últimos são vitais para integrar toda a organização e garantir que os procedimentos sejam conhecidos e aplicáveis em situações reais.
A Política de Gestão de Continuidade de Negócios (PGCN), conforme a NBR 15999-1 (ABNT, 2007), oferece uma base para entender, desenvolver e implementar a continuidade de negócios. Trata-se de um processo de gestão que identifica potenciais ameaças e danos às operações, capacitando a organização a responder eficaz e eficientemente a adversidades. A PGCN deve ser aperfeiçoada e divulgada continuamente, descrevendo objetivos, escopo e responsabilidades dos envolvidos. Sua aplicação não apenas fortalece a confiança de clientes e parceiros, como também preserva vidas e a imagem institucional. Sem ela, organizações tendem a “chorar sobre o leite derramado”, lamentando prejuízos por não terem desenvolvido ações preventivas.
No contexto dos serviços de tecnologia da informação, a biblioteca ITIL fornece processos estruturados para alinhar TI às necessidades do negócio. Axelos (2011) destaca que o Gerenciamento de Continuidade de Serviços de TI (GCSTI), ou IT Service Continuity Management (ITSCM), integra a fase de design de serviço da ITIL. Seu objetivo é gerenciar riscos capazes de afetar os serviços de TI, garantindo níveis mínimos de qualidade preestabelecidos mesmo após desastres. Para isso, aplica Análise de Impacto nos Negócios e Gerenciamento de Riscos, resultando no plano de continuidade de serviços de TI, que apoia o PCN geral. Kempter e Kempter (2020) ressaltam que os planos de TI devem estar alinhados aos planos de negócios, uma vez que a função da tecnologia é apoiar o negócio. Entre os benefícios do GCSTI estão a recuperação rápida dos serviços de TIC, o apoio preventivo por meio de cenários projetados e a minimização de incertezas mediante ações proativas.
Os fundamentos do gerenciamento de processos de negócio, segundo Dumas, Rosa, Mendling e Reijers (2018), reforçam a importância de compreender dependências e interações entre processos para desenhar estratégias de continuidade eficazes. A análise de impacto no negócio, a avaliação e o tratamento dos riscos são práticas centrais para que os níveis de disponibilidade e desempenho dos serviços se mantenham aceitáveis em caso de desastre (TCU, 2020). O alinhamento entre planos de TI, estratégias organizacionais e normas regulatórias como a ABNT NBR ISO 22301 e a ABNT NBR ISO 22313 (ABNT, 2012; 2015) é essencial para um sistema de gestão robusto.
A prática demonstra que organizações precavidas passam por crises com maior robustez, protegendo não apenas seus processos, mas também a vida de seus colaboradores. Exemplos recentes, como a pandemia de coronavírus ou o incêndio no centro de treinamento do Flamengo (BBC News Brasil, 2019), evidenciam a imprevisibilidade dos desastres e a necessidade de políticas preventivas bem estruturadas. Assim, construir, manter e divulgar uma PGCN exige comprometimento contínuo da liderança organizacional, reforçando a cultura de resiliência e a capacidade de adaptação a riscos emergentes.
Referências
ALEVATE, W. Gestão da Continuidade de Negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR. Guia de Boas Práticas para Plano de Continuidade de Negócios. Publicado em: out. 2012.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 15999-1 – Gestão de continuidade de negócios – Parte 1: Código de prática. Rio de Janeiro, 2007.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR ISO 22301 – Sistema de Gestão de Continuidade de Negócios: Requisitos. Rio de Janeiro, 2012.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR ISO 22313 – Sistema de Gestão de Continuidade de Negócios: Orientações. Rio de Janeiro, 2015.
AXELOS. Glossário ITIL de Português do Brasil. v. 1. Publicado em: 29 jul. 2011.
BBC NEWS BRASIL. Incêndio no Flamengo: o que se sabe sobre a tragédia que matou 10 em centro de treinamento no Rio. Publicado em: fev. 2019.
DUMAS, M.; ROSA, M. L.; MENDLING, J.; REIJERS, H. A. Fundamentals of Business Process Management. Second Edition. Berlim, Alemanha: Springer, 2018.
KEMPTER, S.; KEMPTER, A. ITIL Glossary A-Z. IT Process Maps. Consultado em meio eletrônico em: 17 abr. 2020.
LEWIS, W. E. PDCA/Test Software: A Quality Framework for Software Testing. Auerbach Publications, 1998.
PLANO DE CONTINUIDADE DE NEGÓCIOS. Wikipédia: a enciclopédia livre. Flórida, EUA: Wikimedia Foundation, 2018.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. TCU. Gestão de continuidade de negócios. Consultado na internet em: 17 abr. 2020.