Trump formaliza parceria com xAI de Elon Musk e leva IA estratégica ao centro do governo dos EUA

O acordo entre a administração Trump e a xAI oferece acesso inédito ao Grok e redefine a disputa política e tecnológica pela inteligência artificial no setor público norte-americano.

Trump formaliza parceria com xAI de Elon Musk e leva IA estratégica ao centro do governo dos EUA

A assinatura do acordo entre a administração Trump e a xAI marca uma inflexão no uso institucional de tecnologias de inteligência artificial nos Estados Unidos, ao elevar a IA de ferramenta auxiliar a elemento de política pública estratégica. A proposta concede às agências federais acesso ao Grok nas versões mais recentes por um valor simbólico de US$ 0,42 por instituição durante 18 meses, sinalizando que esse uso não visa somente retorno comercial, mas influência e integração estrutural no aparato governamental.

Essa escolha reverbera escândalos anteriores envolvendo o Grok, incluindo saídas consideradas enviesadas e críticas quanto à intervenção de valores pessoais do fundador Elon Musk no comportamento do modelo, o que suscita debates intensos sobre transparência algorítmica e controle institucional. Em julho, a xAI já havia sido selecionada para um contrato do Departamento de Defesa de até US$ 200 milhões no âmbito do programa "Grok for Government", confirmando seu papel ambivalente entre fronteiras civil e militar.

O envolvimento da General Services Administration (GSA), órgão responsável pelas compras federais, confere legitimidade ao pacto; ele insere a xAI no leque de fornecedores homologados, junto a OpenAI, Anthropic e Google, que já mantinham acordos semelhantes. Cada concorrente oferece seus modelos por preços baixos como estratégia para consolidar presença nas estruturas federais, tornando esse mercado interno de IA um campo de disputa tecnológica e política.

Politicamente, a iniciativa pode ser lida como uma reconciliação tácita entre Musk e Trump. Em meses recentes houve atritos públicos, enquanto Trump chegou a questionar contratos com empresas de Musk. Agora, ao adotá-las de forma formal, ele sinaliza que interesses estratégicos prevalecem sobre discordâncias pontuais. A manobra pode também indicar a tentativa, por parte do governo, de vincular-se a uma narrativa de modernidade e inovação digital, projetando uma imagem de que o Estado acompanharia os vetores mais dinâmicos da tecnologia privada.

Mas os riscos avançam junto com as promessas. Ao permitir que uma IA desenvolvida por entidade privada se torne parte dos fluxos decisórios estatais, abre-se espaço para tensões relativas à autonomia institucional, à fiscalização cidadã e à responsabilidade por falhas ou vieses inerentes ao sistema. Não basta que o uso da ferramenta seja regulado, é preciso que sua operacionalização observe critérios públicos robustos de auditoria, mitigação de distorções e accountability.

Em suma, o acordo com a xAI não é apenas mais uma contratação técnica. Ele reafirma que o protagonismo da IA no século XXI já cruza a fronteira do meramente funcional para ocupar espaço de poder simbólico e real. E como tal, exigirá do Estado e da sociedade uma postura de vigilância crítica: de que, ao internalizar essas arquiteturas cognitivas privadas, não se subordine o interesse comum aos algoritmos de mercado.