Brasil acelera rumo ao futuro com inauguração da fábrica da BYD em Camaçari/BA
A fábrica da BYD em Camaçari inicia operações como marco da eletrificação automotiva no Brasil, unindo investimento bilionário, geração de empregos e desafio socioambiental.

A chegada da BYD ao Brasil marca um novo capítulo na história da indústria automotiva nacional. A gigante chinesa, que se tornou referência mundial em veículos elétricos e híbridos, inicia nesta semana as operações de sua fábrica no município de Camaçari, na Bahia, transformando o antigo complexo industrial da Ford em um dos maiores polos produtivos da empresa fora da China. Com um investimento estimado em 5,5 bilhões de reais, a planta brasileira não é apenas um projeto industrial, mas representa uma estratégia global de expansão e consolidação da BYD na América Latina, com o Brasil assumindo papel central na cadeia de produção, exportação e adaptação tecnológica ao mercado regional.
Inicialmente, a produção seguirá o modelo SKD, sigla para Semi Knock-Down, com a montagem local de veículos a partir de componentes importados. Essa fase contempla modelos já populares no portfólio da montadora, como o Dolphin Mini, versão brasileira do modelo Seagull, e os SUVs da linha Song, que incluem os modelos Song Pro e Song Plus. A expectativa é que, ao longo dos próximos meses, a fábrica avance gradativamente para a nacionalização dos componentes, com previsão de atingir 70% de produção local até 2026, quando a planta deverá estar plenamente funcional, com setores como pintura e estamparia em pleno funcionamento. Isso permitirá a produção de veículos híbridos com tecnologia flex desenvolvida especialmente para o mercado brasileiro, como no caso do Song Pro com motor térmico adaptado ao etanol.
A inauguração formal do complexo será realizada no dia 1º de julho de 2025, em um evento com visita técnica e apresentação oficial da estrutura. Apesar de o cronograma inicial prever o início das operações para 26 de junho, ajustes logísticos e estruturais exigiram um pequeno adiamento. Ainda assim, o projeto segue dentro das metas de médio prazo da montadora, que visam transformar a fábrica baiana em um hub de exportação para toda a América do Sul, reforçando a posição do Brasil como elo estratégico na transição energética do setor automotivo.
O impacto socioeconômico da instalação da BYD na região é significativo. A expectativa é de que sejam gerados até dez mil empregos diretos até 2026, com potencial para mais de vinte mil postos de trabalho quando considerados os empregos indiretos ao longo da cadeia produtiva e dos fornecedores. A compra da antiga planta da Ford foi fechada por aproximadamente 290 milhões de reais, simbolizando a revitalização de um parque industrial que havia sido desativado e que agora volta ao protagonismo com foco em inovação e sustentabilidade. O modelo de negócios adotado pela BYD envolve também a implementação de centros logísticos e de engenharia, reforçando sua presença institucional e tecnológica no país.
No entanto, a instalação da montadora não foi isenta de polêmicas. Em dezembro de 2024, uma operação do Ministério do Trabalho resgatou 163 operários chineses submetidos a condições análogas à escravidão durante a construção da fábrica. O episódio gerou ampla repercussão nacional e internacional, culminando na suspensão de concessões de vistos para trabalhadores estrangeiros vinculados à obra e na rescisão contratual com a construtora terceirizada responsável. A BYD declarou publicamente sua política de tolerância zero a qualquer prática que viole os direitos humanos e afirmou ter reforçado seus mecanismos internos de controle e conformidade para garantir o cumprimento das normas brasileiras.
Apesar dos desafios, a chegada da BYD ao Brasil reflete uma mudança profunda no cenário automotivo global. Em um momento em que as montadoras tradicionais ainda enfrentam dificuldades para adaptar suas linhas de produção à nova era elétrica, a empresa chinesa se antecipa com soluções acessíveis, modernas e ambientalmente responsáveis. Ao apostar na montagem de carros elétricos compactos e SUVs híbridos adaptados ao uso de etanol, a BYD demonstra compreensão do contexto energético e econômico brasileiro, combinando inovação tecnológica com pragmatismo de mercado. A produção nacional também viabiliza preços mais competitivos, ao reduzir a carga tributária sobre importações e encurtar a cadeia logística.
À medida que o complexo de Camaçari consolida suas operações e avança em direção à verticalização da produção, o Brasil se posiciona como um dos principais polos da mobilidade elétrica na América Latina. A presença da BYD no país pode funcionar como catalisador para outras transformações estruturais, incluindo políticas públicas de incentivo à mobilidade sustentável, ampliação da infraestrutura de recarga e fortalecimento da indústria de componentes locais. Resta agora acompanhar como a empresa lidará com os compromissos trabalhistas, ambientais e de governança que se impõem nesse novo ciclo de industrialização verde. A fábrica da BYD não representa apenas a montagem de carros, mas a construção de um novo modelo de desenvolvimento baseado em tecnologia limpa, geração de empregos e reinvenção da indústria nacional.