Integração entre Inteligência, Cognição, Linguagem, Emoção e Motivação: fundamentos, teorias e práticas

Estudo revela como inteligência, cognição, linguagem, emoção e motivação se interligam e moldam o comportamento humano desde a infância até a vida adulta.

Integração entre Inteligência, Cognição, Linguagem, Emoção e Motivação: fundamentos, teorias e práticas

A compreensão do comportamento humano exige uma abordagem multidimensional, integrando aspectos relacionados à inteligência, cognição, linguagem, emoção e motivação. Esses elementos não se manifestam de modo isolado, mas como partes de uma rede dinâmica e complexa, influenciada tanto por determinantes biológicos quanto sociais e culturais. O estudo da inteligência, por exemplo, foi um dos marcos fundadores da avaliação psicológica moderna. De acordo com Vicente Cassepp-Borges (2023), "a inteligência humana é um tópico especialmente importante para a psicologia e o seu estudo originou a avaliação psicológica. Mais do que isso, a inteligência é uma síntese de todo o potencial humano. Pessoas mais inteligentes tendem a desfrutar de maior sucesso na vida, maiores salários, ocuparem posições de maior status na sociedade. Países com populações mais inteligentes também tendem a ser mais desenvolvidos social e economicamente" (CASSEPP-BORGES, 2023, p. 2).

Diversas teorias e métodos surgiram ao longo da história para explicar e avaliar a inteligência, desde a psicometria de Galton e Cattell até as escalas de Binet-Simon e Stanford-Binet. Como destaca o mesmo autor, "Binet e Simon, em 1905, desenvolveram um teste que media uma variedade de processos mentais tais como raciocínio, julgamento e compreensão. O fato de o teste de Binet estar medindo processos cognitivos e não sensoriais, além de ser muito bom do ponto de vista psicométrico, contribuiu para o seu enorme sucesso" (CASSEPP-BORGES, 2023, p. 8). Esse desenvolvimento abriu caminho para uma compreensão mais ampla das capacidades humanas, como exemplificado pelo conceito de inteligência como "a capacidade de adaptar-se a situações novas e aprender com facilidade" (CASSEPP-BORGES, 2023, p. 24).

No que diz respeito ao desenvolvimento do pensamento e do conhecimento, Lincoln Nunes Poubel (2023) afirma que "a razão é uma capacidade própria do ser humano, que nos permite ascender às ideias com base em uma ampla e profunda compreensão da realidade. Além de essa habilidade nos distinguir dos demais seres vivos, ela pode promover a qualidade de vida e felicidade" (POUBEL, 2023, p. 2). Os processos cognitivos são explicados à luz de diversas correntes epistemológicas, racionalismo, empirismo, intelectualismo e apriorismo, sendo que "todos esses tipos de conhecimento têm seu lugar" (POUBEL, 2023, p. 3). Poubel complementa: "Para a construção do conhecimento, nós, seres humanos, começamos uma jornada que se inicia com o nascimento e vai até a adolescência. No estudo dessa jornada, Piaget parte de uma epistemologia genética e desenvolve sua teoria construtivista" (POUBEL, 2023, p. 9). A teoria piagetiana, por sua vez, destaca o papel fundamental da assimilação, acomodação e equilibração, promovendo a adaptação contínua do sujeito ao meio.

A linguagem, como campo fundamental da cognição, permite ao ser humano não só comunicar-se, mas também estruturar o pensamento e construir significados. Carina Tellaroli Spedo e Andréia Costa Rabelo (2023) explicam: "A linguagem representa um marco da grande distinção dos humanos para os outros animais. Além disso, ela nos traz vantagens, uma vez que, como seres humanos, somos capazes de expressar pela fala, leitura e escrita desde informações simples até emoções muito complexas" (SPEDO; RABELO, 2023, p. 2). Para além disso, afirmam que "a linguagem constitui uma capacidade cognitiva importante, indispensável para a comunicação entre as pessoas. Ela não é apenas fundamental para a comunicação, ela também se encontra intimamente ligada ao próprio modo pelo qual pensamos e compreendemos o mundo"(SPEDO; RABELO, 2023, p. 3). Chomsky (1965, apud SPEDO; RABELO, 2023) propôs que os seres humanos nascem biologicamente preparados para a aquisição da linguagem, sendo a gramática universal um conjunto de princípios inatos. Ainda assim, Kuhl (2000, apud SPEDO; RABELO, 2023) lembra que "o meio ambiente, no contexto cultural específico, proporciona as adaptações do ser ao meio, por meio das conexões sinápticas no cérebro que começam a se especializar para a compreensão profunda e especializada do idioma desse meio cultural, sobre todos os outros idiomas" (SPEDO; RABELO, 2023, p. 5).

No domínio das emoções, observa-se uma multiplicidade de definições e abordagens. Roberta Curvello (2023) sintetiza: "As emoções podem ser compreendidas por uma variedade de componentes e não estão restritas a definições que contemplem somente aspectos envolvendo cognição, sistemas neurofisiológicos ou a influência constitutiva do ambiente sociocultural. Os teóricos da emoção podem divergir em inúmeros aspectos sobre sua definição e suas causas, mas concordam que ela tem dimensões relativas à quantidade e qualidade/valência" (CURVELLO, 2023, p. 2). A autora destaca que, para William James, "primeiro pensamos e depois reagimos. Aqui percebemos uma dicotomia entre cognição e emoção, que segue aquela velha divisão entre corpo e mente" (CURVELLO, 2023, p. 5). Já para Henri Wallon, "a emoção é tanto biológica quanto social e, segundo ele, ela garante a nossa sobrevivência" (CURVELLO, 2023, p. 12). Sobre as emoções morais, Curvello ressalta que "ao longo da vida, vamos aprendendo a sentir culpa, vergonha e orgulho no convívio social. A consciência dessas emoções emerge por volta dos dois anos e meio de idade e está associada a fatores maturacionais e cognitivos" (CURVELLO, 2023, p. 9). Ademais, a autora aponta: "Todas as emoções são consideradas importantes, pois nos conectam com a nossa vida e com os outros. Elas podem ser vivenciadas de maneira positiva ou negativa e podem ainda ser adaptativas ou não ao contexto sociocultural e às expectativas do ambiente, tais como a casa, a escola ou o trabalho" (CURVELLO, 2023, p. 10).

A motivação, por sua vez, é tratada como uma força propulsora que move o indivíduo em direção a objetivos, desejos e necessidades. Andréia Costa Rabelo (2023) define: "Motivação é um processo responsável pela intensidade, direção e persistência dos esforços de alguém que tem por objetivo alcançar um propósito ou uma meta. É uma força que move, regula e sustenta as ações de um indivíduo" (RABELO, 2023, p. 2). Essa força pode ser interna (intrínseca) ou externa (extrínseca), como explica: "A resposta positiva pressupõe que a motivação vem de fora da pessoa, ou seja, a força é extrínseca, enquanto na resposta negativa a crença é de que essa força se origina interiormente, é espontânea e gratuita, ou seja, intrínseca" (RABELO, 2023, p. 9). Os estudos sobre motivação remontam aos antigos filósofos gregos, mas ganharam corpo nas teorias modernas, como a hierarquia de necessidades de Maslow e a teoria dos dois fatores de Herzberg, cada qual enfatizando diferentes aspectos do comportamento motivado.

Sendo assim, é possível afirmar que o desenvolvimento humano pleno depende de uma articulação equilibrada entre capacidades intelectuais, habilidades cognitivas, competência linguística, regulação emocional e motivação. A singularidade de cada indivíduo manifesta-se na forma como integra esses elementos, transformando experiências e conhecimentos em ações criativas, adaptativas e socialmente relevantes. A compreensão e o fomento dessas dimensões, fundamentados em sólidas bases teóricas e empíricas, são essenciais para promover a saúde mental, o bem-estar e o potencial humano em todas as esferas da vida.

Referências Bibliográficas

CASSEPP-BORGES, Vicente. Inteligência: a avaliação da inteligência em seus aspectos históricos e contemporâneos. 2023. Material didático.

CURVELLO, Roberta. Emoção: o múltiplo conceito da emoção e do sentimento, assim como as perspectivas e abordagens psicológicas que alicerçam os diversos componentes relacionados ao tema. 2023. Material didático.

POUBEL, Lincoln Nunes. Pensamento: a evolução histórica de produção de conhecimentos ao desenvolvimento individual dos processos cognitivos elementares e superiores. 2023. Material didático.

RABELO, Andréia Costa. Motivação: desenvolvimento do conceito de motivação e sua interferência no comportamento humano. 2023. Material didático.

SPEDO, Carina Tellaroli; RABELO, Andréia Costa. Linguagem: introdução ao conceito de linguagem, características e funções. 2023. Material didático.

BINET, Alfred; SIMON, Théodore. L’intelligence des enfants. Paris: Colin, 1909.

CHOMSKY, Noam. Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge, MA: MIT Press, 1965.

EKMAN, Paul. Emotions revealed: recognizing faces and feelings to improve communication and emotional life. New York: Henry Holt, 2003.

GALTON, Francis. Hereditary Genius: An Inquiry into Its Laws and Consequences. London: Macmillan, 1869.

HERZBERG, Frederick; MAUSNER, Bernard; SNYDERMAN, Barbara. The Motivation to Work. New York: Wiley, 1959.

JAMES, William. The Principles of Psychology. New York: Henry Holt, 1890.

KUHL, Patricia K. A new view of language acquisition. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 97, n. 22, p. 11850-11857, 2000.

MASLOW, Abraham Harold. Motivation and Personality. 2. ed. New York: Harper & Row, 1970.

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

SPEARMAN, Charles. The Abilities of Man: Their Nature and Measurement. London: Macmillan, 1927.

STERN, William. The Psychological Methods of Intelligence Testing. Baltimore: Warwick & York, 1914.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WALLON, Henri. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Livros Horizonte, 1975.

YERKES, Robert M. The dancing mouse: a study in animal behavior. New York: Macmillan, 1907.