Quando o sucesso se torna o maior risco

Uma reflexão sobre o livro Como as Gigantes Caem, de Jim Collins, que revela como a arrogância e a perda de disciplina transformam a grandeza em declínio e o sucesso em ilusão.

Quando o sucesso se torna o maior risco

Há um instante em que toda grandeza é posta à prova, não quando o sucesso brilha, mas quando o orgulho começa a corroer o alicerce que o sustentava. Jim Collins nos convida a olhar para esse ponto invisível em que a soberba se disfarça de confiança e a pressa se veste de ambição. O declínio, ele mostra, raramente chega de forma súbita. Ele se infiltra silenciosamente, quando deixamos de praticar o que nos tornou fortes. Uma empresa, uma carreira, uma vida, todas podem cair pelo mesmo princípio: trocar a disciplina pela vaidade.

O que torna Como as Gigantes Caem tão poderoso é a lucidez com que expõe a natureza humana dentro das organizações. O sucesso gera conforto, o conforto gera distração e a distração alimenta o erro. Collins revela que as quedas mais trágicas não ocorrem por falta de capacidade, mas por excesso de autoconfiança. A busca indisciplinada por mais, por mais lucro, mais crescimento, mais reconhecimento, substitui o zelo pela excelência e o respeito pelos fundamentos. O "mais" se torna inimigo do "melhor".

No coração do declínio há uma negação: a recusa em ver o perigo quando ele ainda pode ser corrigido. É o estágio mais humano de todos, porque todos nós, em algum momento, preferimos acreditar que o problema não é tão grave quanto parece. As gigantes caem porque seus líderes confundem esperança com teimosia, fé com fuga. E, quando a crise se instala, buscam salvação em soluções rápidas, heróis externos, fusões mágicas, slogans inspiradores. Mas o que salva não é a bala de prata; é o retorno à essência. É fazer de novo, e com humildade, o que antes era feito com disciplina e paixão.

Collins nos lembra que a verdadeira liderança não se mede na ascensão, mas na travessia do declínio. É quando o brilho apaga que se descobre quem ainda acredita no propósito e quem só acreditava no sucesso. Reerguer-se exige encarar os fatos brutais sem perder a fé, o paradoxo que separa quem volta a crescer de quem desaparece. É um trabalho de reconstrução lenta, baseada em pequenas vitórias que voltam a girar a roda do progresso.

Essa reflexão extrapola o mundo corporativo e serve a qualquer um que já tenha se perdido no próprio caminho. Quantas vezes o mesmo padrão se repete em nós: começamos humildes, disciplinados e gratos, e terminamos arrogantes, cansados e desconectados do que nos fez começar. O declínio pessoal, como o organizacional, também se inicia quando acreditamos que já sabemos demais para ouvir, já crescemos demais para aprender e já conquistamos demais para mudar.

Ler Como as Gigantes Caem é, portanto, mais do que um estudo sobre empresas. É um espelho. Um lembrete de que a grandeza é um estado de espírito sustentado por vigilância constante. Que a disciplina é a forma mais madura do amor, o amor pelo que se construiu, pelas pessoas que confiam em nós e pela visão que nos moveu no início. Que o sucesso não é um prêmio eterno, mas um empréstimo renovado diariamente pela integridade de nossas escolhas.

As gigantes caem quando esquecem o porquê se levantaram. E se reerguem quando reencontram, na simplicidade do essencial, a força que nenhuma crise consegue destruir.