A Bolha dos Códigos e o Ciclo da Ilusão: por que nunca terceirize seu futuro à Inteligência Artificial

A bolha das startups e a ascensão da IA expuseram uma verdade: só quem tem base sólida, pensamento crítico e visão estratégica sobreviverá ao colapso tecnológico.

A Bolha dos Códigos e o Ciclo da Ilusão: por que nunca terceirize seu futuro à Inteligência Artificial

Muita gente está acordando agora para uma realidade que eu, sinceramente, já vinha sentindo desde 2018. Naquele período, enquanto o mundo da tecnologia vivia o frenesi das startups e os gurus do "aprenda a programar em 5 meses" vendiam promessas como se fosse fórmula mágica, eu já estava certo de que estávamos diante de uma bolha. E bolhas, como sabemos, não se sustentam com hype,  estouram com realidade.

O discurso da década era simples: "vai faltar 1 milhão de programadores". A ideia era vender a narrativa de que bastava um curso rápido, uma assinatura em plataforma online, ou mesmo um bootcamp milagroso para mudar de vida. Resultado? Gente saindo de medicina, direito, engenharia, largando faculdades sólidas, com a promessa de ganhar 15 mil reais por mês programando. Sinceramente, a programação virou o "miojo das profissões": fácil de fazer, rápido de consumir, e,  na maioria das vezes,  pouco nutritivo.

Mas vamos aos fatos. A explosão de cursos e a romantização do "dev lifestyle" criaram uma geração de programadores "vibe coders". Gente que não queria entender base de dados, estrutura de sistemas, segurança, arquitetura de software ou engenharia de requisitos. Queria, sim, virar influencer no TikTok mostrando como faz yoga antes da daily stand-up no Google. E enquanto isso, quem sabia o que estava fazendo, dobrou o preço. E eu fui um deles.

Quando o COVID veio em 2020, o mundo digital entrou em combustão. E-commerce, delivery, streaming,  todos explodiram. E com eles, a demanda por profissionais. Só que era uma demanda inflada, um estoque de gente contratada sem nem ter demanda real. As Big Techs contrataram como se o amanhã não existisse. Mas ele chegou. E em 2022, chegou cobrando a conta.

Layoffs em massa. 10 mil no Google. 12 mil na Meta. 11 mil na Amazon. Fora os médios e pequenos. A bolha estourou. Mas, como se não bastasse, ela estourou justamente quando a inteligência artificial resolveu mostrar que também sabe escrever código. E aí, o pânico. O mesmo programador que era o "profissional do futuro" virou, da noite pro dia, uma profissão em extinção.

Vamos colocar as coisas no devido lugar: a IA não vai substituir o programador que pensa. Mas vai acabar com o programador que só copia e cola. E isso, meu amigo, é bom. Porque o mercado estava saturado de "digitadores de Stack Overflow" e carente de profissionais com raciocínio lógico, domínio de algoritmos, bases matemáticas, engenharia de software, conhecimento real de banco de dados e visão sistêmica. IA substitui tarefas, não capacidade de raciocínio e decisão estratégica.

O problema, aliás, está em terceirizar decisões. Quem vive de perguntar "qual linguagem aprender?" ou "qual área vai dar mais dinheiro?" está jogando um dado que não controla. É como abrir uma enciclopédia na página da Bulgária e decidir mudar de vida. Não funciona assim. É preciso parar de pensar que alguém,  seja eu, um guru da internet ou um chatbot,  pode escolher por você. Essa é a maior ilusão da modernidade.

E aqui vai um alerta real: o novo perigo não é a IA, é o marketing da IA. Quando vejo Sam Altman tentando se vestir como Steve Jobs e desembolsando 6.5 bilhões de dólares para fazer uma foto com o Johnny Ive,  designer que desde a morte de Jobs não lançou mais nada,  eu entendo o jogo. O jogo não é sobre inovação. É sobre manter a narrativa do "next big thing". É Elizabeth Holmes da Theranos 2.0. É o marketing vencendo a engenharia. E isso nos leva de novo ao risco de mais um inverno da IA. Porque quando a promessa não se entrega, o capital vai embora. E o mundo tecnológico entra em depressão.

Enquanto isso, o que eu fiz? Eu montei minha estratégia. Ao invés de correr atrás do hype, escolhi me aprofundar na base. Banco de dados, governança, estrutura lógica, pensamento computacional, engenharia aplicada. Toda minha produção,  seja em vídeo, artigo ou projeto,  parte da seguinte pergunta: "isso aqui vai me manter relevante no mundo pós-bolha?".

E a resposta, quase sempre, exige consistência, estudo e pé no chão.

Então, para você que está se perguntando como se preparar para esse novo ciclo, eu digo: pare de correr atrás do vento. IA não é um oráculo, mas pode ser sua aliada,  se você tiver base. E base não se compra com curso de fim de semana. Se constrói com leitura, prática, erros, análise crítica, decisões conscientes e,  acima de tudo,  visão de longo prazo.

Essa é a diferença entre quem sobrevive ao colapso e quem desaparece com a bolha.