A jornada espiritual do Oficina G3: como o chamado pastoral moldou a história da banda

A trajetória do Oficina G3 foi marcada por sucessivas saídas de vocalistas, sempre motivadas por vocações pastorais e decisões de fé.

A história da banda Oficina G3 é marcada por mudanças significativas e por um curioso padrão que atravessa seus anos de trajetória: a saída de seus vocalistas sempre esteve associada a chamados ministeriais e à dedicação à vida pastoral. O primeiro a deixar a formação foi Manga, vocalista original do grupo, que se destacou por seu forte envolvimento com o ministério. Enviado pela Igreja Renascer em Cristo para liderar uma congregação no Rio de Janeiro, Manga não conseguiu conciliar os compromissos pastorais com a agenda de shows da banda, que na época atravessava uma fase de grande crescimento após o sucesso do álbum Indiferença. A saída não foi marcada por conflitos, mas por uma decisão amadurecida em conjunto. Os integrantes, apesar do pesar, entenderam que a missão espiritual de Manga exigia dedicação exclusiva. "A gente sempre respeitou a liderança do Manga. Quando ele nos disse que não conseguiria manter o ritmo, tivemos uma conversa honesta e reconhecemos que não dava para manter um vocalista de forma esporádica", relembrou um dos músicos.

Com a saída de Manga, o grupo convidou PG, amigo pessoal dos integrantes e membro da mesma igreja, para assumir os vocais. A entrada de PG marcou uma nova fase na banda, que viu seu público crescer exponencialmente. Álbuns como Acústico Ao Vivo e O Tempo consolidaram o Oficina G3 como um dos principais nomes do rock cristão no Brasil, com uma sonoridade mais acessível e canções que alcançaram milhares de pessoas. No entanto, novamente a vocação pastoral se impôs. PG, já envolvido com o ministério, anunciou sua saída da banda sentindo-se direcionado por Deus a seguir um novo caminho. Apesar do impacto, os integrantes respeitaram sua decisão, reconhecendo o chamado espiritual do vocalista. "Foi de surpresa, mas Deus já tinha preparado meu coração uma semana antes. Eu já sentia que ele estava vivendo algo além da banda", comentou Juninho Afram.

Após a saída de PG, a banda iniciou uma busca por uma nova voz que mantivesse a força e a identidade do grupo. Foi então que surgiu o nome de Mauro Henrique, vocalista da banda Vértice, que chamou atenção pela potência vocal e presença de palco. Após alguns testes e apresentações ao vivo, Mauro foi oficializado como novo vocalista. Com ele, o Oficina G3 lançou discos como Depois da Guerra, Histórias e Bicicletas (gravado na Inglaterra), DDG e três singles posteriores. A nova fase trouxe um som mais pesado, moderno e emocional, reafirmando a relevância da banda no cenário cristão.

Em 2017, no entanto, o Oficina G3 entrou em pausa. A saída de Mauro foi menos abrupta e já era esperada pelos integrantes, dado o envolvimento dele com outros projetos pessoais e profissionais. A decisão, embora significativa, não causou ruptura. "O G3 já estava parado. A saída do Mauro foi parte natural desse processo. Ele já estava em outra fase da vida dele e a gente compreendeu", afirmaram.

A sucessiva saída de vocalistas para seguir a vida ministerial levantou uma curiosa percepção entre os próprios membros da banda: todos os frontmen do G3 acabaram se tornando pastores. "O G3 é quase um seminário. Os vocalistas saem e viram pastores", brincaram em tom reflexivo, reconhecendo a força espiritual que permeou toda a trajetória da banda.

Linha do tempo vocal - Oficina G3
Manga (anos 90 – início dos 2000): Sai para liderar igreja no Rio de Janeiro.
PG (início dos 2000 – 2007): Assume os vocais; sai após ser ungido pastor.
Mauro Henrique (2008 – 2017): Assume a liderança vocal e grava quatro álbuns; sai durante pausa da banda.