Casamentos à Beira do Abismo: O Resgate da Aliança Pela Cruz, Pela Entrega e Pela Verdade
Um chamado profundo à restauração dos casamentos cristãos, lembrando que amor não morre por falta de sentimento, mas por ausência de entrega, comunhão e humildade diante da cruz.

Vivemos tempos em que o amor, tantas vezes, se vê ameaçado não pela ausência de afeto, mas pela escassez de entrega. O casamento, projeto original de Deus para o ser humano, tem sofrido ataques silenciosos, não apenas de fatores externos, mas, sobretudo, de dentro dos próprios lares cristãos. E muitos casamentos estão ruindo, não por falta de oração ou de princípios, mas por uma ausência de maturidade, diálogo profundo e genuína comunhão.
A verdade é que a aliança conjugal é viva, mas morre sem cuidado, sem humildade e sem investimento diário. Antes que o silêncio vire rotina, antes que o coração se feche e antes que o "bom demais" não seja mais suficiente, é necessário lutar, baixar as armas do orgulho e, sobretudo, descer do pedestal. A Palavra nos orienta: "Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne." (Gênesis 2:24). Tornar-se um é um processo contínuo de renúncia e reconciliação diária, não um estado automático ou garantido apenas pela cerimônia.
Deus abomina o divórcio, como nos alerta Malaquias 2:16, mas Ele não ignora a dor. "Moisés permitiu o divórcio por causa da dureza do coração de vocês..." (Mateus 19:8). O divórcio não foi criado por Deus, mas tolerado como um remédio amargo para corações petrificados, marcados por abusos, traições, violência e quebra de aliança. O pecado não está na separação diante de cenários de destruição, mas em manter um casamento apenas no nome, onde só existe desrespeito, frieza e anulação do outro.
O que tem destruído os casamentos cristãos não é o mundo, mas expectativas irreais alimentadas por teologias rasas, falta de confissão, pornografia silenciosa, ausência de discipulado conjugal real, influência da cultura descartável e o distanciamento emocional entre os cônjuges. Não é a ausência de amor, mas a falta de entrega, de arrependimento verdadeiro, de confissão profunda e de uma disposição real para descer do altar do ego. "Melhor é serem dois do que um... Se um cair, o outro levanta o seu companheiro" (Eclesiastes 4:9-10), mas isso só acontece quando ambos estão dispostos a se apoiar e caminhar juntos, mesmo em tempos difíceis.
Muitos casamentos terminam no coração muito antes da separação formal. A admiração acaba, o diálogo se transforma em cobrança, o toque desaparece, o perdão é esquecido e o "eu te amo" vira "estou cansado(a)". O divórcio se instala em silêncios acumulados, até que dois estranhos passem a habitar a mesma casa, mantendo apenas a fachada de uma união.
A restauração é possível, mas não acontece por fórmulas mágicas ou versículos soltos. É preciso arrependimento real, confissão profunda, acompanhamento pastoral sério, terapia cristã, e, acima de tudo, o compromisso diário de descer do altar do ego. Casamentos não morrem por falta de amor, mas pela falta de entrega. E isso só é possível quando ambos se voltam para a cruz, onde o orgulho morre, o perdão floresce e a verdadeira comunhão se estabelece.
O cenário é alarmante: segundo o IBGE, o número de divórcios no Brasil cresceu 75% nas últimas duas décadas. Dentro das igrejas, a estatística segue a mesma linha, chegando a mais de 33% entre cristãos praticantes, mostrando que orar juntos não tem impedido muitos casais de se separarem. Isso evidencia que não basta manter rituais, participar de cultos ou fazer devocionais se não houver comunhão, diálogo sincero, partilha de vida e cura das feridas emocionais.
Por fim, a lição maior é que casamentos saudáveis não nascem do acaso, mas do compromisso mútuo de crescer, amadurecer, confessar, perdoar e amar com atitudes, e não apenas palavras. Que possamos resgatar o propósito do casamento, reconstruindo diariamente a ponte da intimidade e restaurando o altar da entrega, para que o amor volte a ser força renovadora e testemunho vivo da graça de Deus.
Que o Senhor nos dê sabedoria, humildade e disposição para lutar pelo casamento, antes que o silêncio vire rotina, antes que o coração se feche e antes que tudo se resuma a uma aliança vazia de sentido. Voltemos à cruz, pois é ali que toda restauração começa.
"Acima de tudo, revistam-se do amor, que é o elo perfeito." (Colossenses 3:14)