Do Papel ao Digital: A Evolução do Trabalho e da Resiliência

Uma reflexão sobre a transformação da tecnologia, do mercado de trabalho e da postura profissional ao longo das últimas décadas.

Do Papel ao Digital: A Evolução do Trabalho e da Resiliência

O mundo mudou, e eu vi essa transformação acontecer de perto. Com 46 anos e mais de 30 anos trabalhando com informática, posso dizer que acompanhei cada passo dessa evolução. Comecei minha trajetória ensinando informática, lidando com manutenção de computadores, configurando redes, implantando e desenvolvendo sistemas, administrando bancos de dados e até mesmo me aventurando na edição gráfica. Vi o tempo moldar não apenas a tecnologia, mas também as pessoas e a forma como lidamos com o trabalho, a informação e a comunicação.

No passado, pesquisávamos em bibliotecas, folheávamos páginas amareladas e preenchíamos fichas de empréstimo à mão. E, por incrível que pareça, respeitávamos os prazos de devolução. Os trabalhos escolares eram escritos à mão, com caligrafia caprichada em folhas de papel almaço, ou datilografados em máquinas de escrever, onde cada erro era corrigido com fita corretiva ou, nos casos mais desesperados, reescrevendo a página inteira.

Para encontrar o telefone de uma empresa ou pessoa, recorríamos à lista telefônica, um calhamaço pesado que ocupava espaço e exigia paciência. Quando precisávamos planejar um trajeto, o “Guia de Ruas” era nosso GPS. Folheávamos suas páginas, buscando nomes de ruas e cruzando informações em grades de coordenadas horizontais e verticais. Eram dois volumes pesados que, juntos, pareciam carregar o peso de uma década de deslocamentos.

Nos comunicávamos por cartas escritas à mão, cuidadosamente dobradas e seladas. Era um tempo em que se colecionavam papéis de carta decorados e se aguardava com expectativa a chegada do carteiro, trazendo notícias de quem estava longe. Para quem trabalhava no varejo, não havia cursos específicos ou faculdades voltadas para o setor. O conhecimento era adquirido na prática, nas ruas e no esforço de comprar revistas e livros caríssimos para entender o mercado de moda e suas tendências.

O controle de estoque era manual, feito em fichas anotadas uma a uma. Nas grandes liquidações, clientes formavam filas na rua, aguardando a vez para entrar na loja. O trabalho era intenso, as vendas eram feitas 100% por comissão, sem direitos, sem fixo, sem vale-refeição ou seguro-saúde. Mas, mesmo assim, no final do ano, conseguíamos juntar dinheiro suficiente para comprar um carro. O ponto era batido em fichas presas numa chapeira na parede, e ninguém se dava ao luxo de faltar, atrasar ou apresentar atestados sem necessidade.

Hoje, tudo está mais acessível, mais rápido e, teoricamente, mais fácil. Temos Google, GPS, assistentes virtuais como Siri e Alexa, inteligência artificial para resolver problemas que antes exigiam horas de trabalho. Mas, ironicamente, nunca vi tanta reclamação, tanto atestado e tanta gente se queixando de dificuldades. O mundo evoluiu, mas parece que a resiliência ficou para trás. O que antes era conquistado com suor e dedicação agora muitas vezes se perde em desculpas e adiamentos. Os tempos mudaram, mas a essência do comprometimento deveria permanecer.