Hidrogênio verde enfrenta desafios econômicos e regulatórios para avançar no mercado global
Apesar de promessas globais, menos de 10% dos projetos de hidrogênio verde planejados em 2023 foram concretizados, devido a custos elevados e incertezas regulatórias.

Nos últimos anos, mais de 60 países anunciaram estratégias ambiciosas para fomentar o mercado de hidrogênio, com foco em sua utilização como fonte de energia sustentável em setores industriais. Apesar do otimismo global, um estudo publicado na Nature Energy revelou que, em 2023, menos de 10% dos projetos de produção de hidrogênio verde planejados foram efetivamente concretizados. Esse dado evidencia a distância entre o discurso e a realidade, ressaltando os desafios técnicos, econômicos e regulatórios que impedem o avanço desse mercado emergente.
O principal entrave está no alto custo do hidrogênio verde, que ainda não é competitivo em comparação a outras fontes de energia. Além disso, há uma clara falta de disposição de empresas e governos para arcar com os custos adicionais dessa transição. Pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam, Adrian Odenweller e Falko Ueckerdt, analisaram 1.232 projetos globais e destacaram que as incertezas relacionadas aos subsídios e à regulamentação do setor dificultam o planejamento e a execução das iniciativas necessárias para alavancar essa indústria.
Para atingir as metas projetadas até 2030, os especialistas estimam que seriam necessários investimentos adicionais de aproximadamente um trilhão de dólares em subsídios. No entanto, os pesquisadores alertam que uma dependência excessiva de incentivos financeiros pode gerar distorções econômicas e comprometer a sustentabilidade do mercado a longo prazo. Em resposta a essa preocupação, sugerem que estratégias focadas no lado da demanda sejam incorporadas, de modo a criar um mercado robusto e auto-sustentável para o hidrogênio verde.
Entre as estratégias propostas, destaca-se a adoção de cotas vinculativas para assegurar que o hidrogênio verde seja prioritariamente destinado a setores considerados difíceis de eletrificar, como aviação, siderurgia e indústria química. A União Europeia já deu um passo nessa direção ao estabelecer uma regulamentação que exige que combustíveis sintéticos baseados em hidrogênio representem ao menos 1,2% dos combustíveis de aviação até 2030, com aumentos graduais previstos até 2050. Essa abordagem regulatória, ao lado de iniciativas semelhantes, poderia servir como modelo para outras economias que buscam acelerar a transição energética.
Outro ponto crucial levantado pelo estudo é a existência de três lacunas fundamentais que comprometem o desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde. A primeira é a lacuna de implementação, que reflete a discrepância entre projetos anunciados e ações concretizadas. A segunda é a lacuna de ambição, evidenciada pela insuficiência de projetos para atender à demanda necessária até 2030. Por fim, a lacuna de financiamento revela que os subsídios disponíveis atualmente estão muito aquém do necessário para sustentar a expansão planejada.
Além dessas barreiras, os pesquisadores alertam sobre o risco dos chamados “bloqueios fósseis”. Trata-se da possibilidade de que investimentos contínuos em soluções baseadas em combustíveis fósseis perpetuem um sistema energético insustentável, dificultando ainda mais o cumprimento das metas climáticas globais. Para mitigar esse risco e promover uma transição efetiva, é fundamental adotar mecanismos de mercado neutros em tecnologia, como a precificação de carbono, que poderiam reduzir a dependência de subsídios públicos e aumentar a competitividade do hidrogênio verde no longo prazo.
Apesar dos desafios, o hidrogênio verde continua sendo uma peça central nos planos de descarbonização global. Para que o potencial dessa fonte de energia seja plenamente realizado, será necessário alinhar esforços em várias frentes: políticas públicas coerentes, investimentos robustos, inovação tecnológica e o compromisso de governos e indústrias em transformar as metas em realidade. O sucesso desse empreendimento não apenas impulsionará o mercado de hidrogênio verde, mas também contribuirá significativamente para a construção de um futuro energético mais limpo e sustentável.