O preço da fuga e o poder de assumir

Fugir da responsabilidade foi o primeiro e mais caro pecado da humanidade, mas assumir com coragem o que Deus confiou é o caminho que restaura autoridade, propósito e destino.

O preço da fuga e o poder de assumir

O pecado mais caro de toda a humanidade não foi o adultério de Davi, nem a idolatria de Israel, tampouco o assassinato cometido por Caim. O pecado mais caro foi a fuga da responsabilidade. Quando Adão, diante de Deus, tentou justificar-se e transferiu sua culpa para Eva, ele não apenas perdeu o Éden, mas perdeu também a autoridade sobre si mesmo. Nesse ato, a humanidade herdou não apenas o pecado original, mas um comportamento recorrente: o de fugir da responsabilidade que Deus confiou a cada um de nós. Desde então, muitos continuam repetindo esse padrão, culpando o outro, o sistema, o destino, ou até mesmo o próprio Deus, quando na verdade o Éden continua sendo perdido cada vez que deixamos de cuidar daquilo que nos foi confiado.

Essa fuga da responsabilidade tem custado caro em todos os campos da vida. Casamentos não se desfazem por falta de amor, mas porque um ou ambos fogem do compromisso de cuidar, de proteger e de nutrir o vínculo que prometeram diante de Deus. Empresas não quebram por falta de talento ou de recursos, mas porque líderes preferem se esconder atrás de justificativas, evitando as decisões difíceis que exigem coragem e discernimento. Famílias não sofrem por escassez de provisão, mas porque o sacerdote do lar delega a outros o peso da condução espiritual e emocional que lhe foi dada como missão divina. A verdade é que a omissão destrói mais do que o erro. O erro pode ser corrigido; a omissão perpetua o vazio.

Em toda a Escritura, vemos que Deus honra aqueles que assumem responsabilidade, mesmo quando não entendem o motivo do sofrimento. José, por exemplo, não foi exaltado apenas por seus sonhos, mas por sua postura em cada circunstância. No poço, na prisão ou no palácio, ele nunca fugiu de sua responsabilidade. Ele serviu com fidelidade, mesmo quando foi traído, injustiçado e esquecido. E é essa fidelidade silenciosa que o tornou apto para governar o Egito. A grandeza de José não estava em seus dons, mas em sua disposição em assumir o que estava em suas mãos, mesmo quando tudo parecia contrário.

A fuga da responsabilidade é, portanto, uma negação do chamado. Quem foge daquilo que Deus lhe confiou, foge de si mesmo. Aquele que transfere a culpa, transfere também a autoridade. Quando um homem culpa outro pelo seu fracasso, ele abdica do poder de mudar. Quando um líder evita a responsabilidade por medo de errar, ele abre mão da autoridade de liderar. Quando um pai se exime de guiar sua casa, ele renuncia ao papel de sacerdote e perde o privilégio de colher os frutos da obediência. Fugir da responsabilidade é escolher a imaturidade espiritual, é permanecer no ciclo da desculpa em vez de entrar no processo da transformação.

A Bíblia é clara ao dizer: "Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não; para que não caiais em condenação" (Tiago 5:12). Essa palavra é um chamado à coerência e à integridade. Assumir responsabilidade é viver com o coração inteiro diante de Deus. É permanecer firme quando a vida exige mais do que a força humana pode dar. É reconhecer que maturidade espiritual não se prova na ausência de erros, mas na capacidade de assumi-los e aprender com eles.

Fugir sempre traz consequências. Fugir custa o Éden, custa a paz, custa a autoridade, custa o propósito. Já assumir, mesmo em meio à dor, multiplica graça, sabedoria e maturidade. Fugir é perder o controle do próprio destino, mas assumir é recuperar o governo da própria alma. Fugir é entregar ao medo o poder de decidir, mas assumir é permitir que a fé conduza cada passo. Deus não se agrada de quem foge, mas se revela àqueles que permanecem fiéis mesmo quando o peso é grande.

A responsabilidade é o altar onde o caráter é provado e a fé é purificada. É no peso do dever que se encontra o propósito da existência. É quando o homem diz "eis-me aqui", mesmo cansado, que Deus responde com "eu sou contigo". E é nesse encontro entre obediência e coragem que a vida ganha sentido, pois a autoridade perdida no Éden é restaurada toda vez que um filho de Deus decide, com humildade e firmeza, assumir o que lhe foi confiado.