A Intersecção das Redes Sociais no Planejamento Urbano: Um Debate Acadêmico entre Mark Granovetter e Herbert J. Gans

A Intersecção das Redes Sociais no Planejamento Urbano: Um Debate Acadêmico entre Mark Granovetter e Herbert J. Gans

O debate acadêmico sobre a renovação urbana do bairro West End de Boston tem sido um campo fértil para discutir o impacto das redes sociais no planejamento urbano. Nesse debate, dois renomados sociólogos, Mark Granovetter e Herbert J. Gans, apresentaram perspectivas distintas que merecem um exame mais detalhado.

Mark Granovetter, em sua abordagem, coloca um forte foco na primazia das redes sociais na configuração de resultados políticos e processos de planejamento urbano. Ele fundamenta sua teoria na hipótese do "small-world" de Stanley Milgram, argumentando que as conexões pessoais e sociais desempenham um papel crítico na distribuição de influência e poder. Granovetter sugere que, ao mapear como indivíduos comuns estão conectados a figuras políticas influentes, podemos obter uma compreensão mais profunda da frequência e da identidade dos intermediários que desempenham papéis essenciais nesses contextos. Ele categoriza essas conexões em "laços fortes" e "laços fracos", destacando que as estruturas sociais não são apenas reflexos passivos dos processos políticos, mas também impulsionadoras ativas da mudança e influência.

Por outro lado, Herbert J. Gans oferece uma visão mais complexa das dinâmicas sociais envolvidas no planejamento urbano. Ele critica a visão de Granovetter como sendo muito simplista e argumenta que outros fatores, como políticas concretas, desempenham um papel significativo. No contexto específico do West End, Gans destaca a falta de informação e a desconexão das redes influentes, o que levou os residentes a subestimar as iniciativas de renovação urbana. Gans também aponta para a importância do ativismo comunitário, exemplificado pela ativista urbana Jane Jacobs, para destacar que a ação coletiva pode emergir de forma espontânea e não necessariamente requer conexões diretas com políticos.

Além disso, Gans amplia seu argumento ao ressaltar que fatores como indiferença, resignação e falta de poder econômico e político também desempenham papéis críticos na dinâmica do planejamento urbano. Ele argumenta que uma abordagem holística é necessária para compreender plenamente como esses fatores interagem e influenciam os resultados.

Outra crítica levantada por Gans é a noção de influência direta versus indireta. Ele sugere que concentrar-se exclusivamente em conexões políticas diretas pode levar a uma compreensão limitada da influência, negligenciando formas indiretas e menos visíveis de influência que muitas vezes são subestimadas em análises centradas na rede.

O debate entre Granovetter e Gans destaca a complexidade das interações entre redes sociais, políticas e processos de planejamento urbano. Embora Granovetter defenda a primazia das redes sociais e suas estruturas, Gans argumenta por uma abordagem mais ampla que considera uma confluência de fatores sociais, políticos e econômicos. Esse debate não oferece uma solução definitiva, mas amplia nosso entendimento sobre como as redes sociais e outros elementos desempenham papéis interligados no contexto do planejamento urbano, apontando para a necessidade de uma abordagem mais integrativa e detalhada no futuro.

Fonte: American Journal of Sociology